Pesquisadores
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que atuam na unidade sediada em Rondônia
desenvolveram uma nova forma de detectar a hepatite D, também conhecida como
hepatite Delta.
Trata-se de
um método molecular que permite inclusive quantificar a carga viral presente no
organismo do paciente. Embora tenha sido desenvolvido inicialmente para fins de
pesquisa, a expectativa é que ele possa futuramente ser incorporado ao conjunto
de exames oferecidos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
O estudo que
levou ao desenvolvimento do método molecular foi conduzido em parceria com três
instituições acrianas: a Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), o
Centro de Infectologia Charles Mérieux e a Universidade Federal do Acre (UFAC).
Ao todo,
estiveram envolvidos 16 pesquisadores. Os resultados constam em um artigo
científico publicado na semana passada na revista Scientific Reports da Nature,
publicação de referência internacional nas áreas das ciências naturais,
psicologia, medicina e engenharia.
Segundo a
pesquisadora da Fiocruz Rondônia e coordenadora do estudo, Deusilene Dallacqua,
atualmente o diagnóstico da hepatite D no SUS é realizado por meio de exame de
sangue que permite apenas a detecção de anticorpos contra o vírus. Dessa forma,
é possível confirmar que a pessoa já foi contaminada.
Método desenvolvido pela Fiocruz
O método
molecular desenvolvido, no entanto, poderá oferecer informações mais
detalhadas. Por meio da amostra de sangue, ele possibilita a detecção do
próprio vírus confirmando que a pessoa está infectada naquele momento exato.
Também permite quantificar a carga viral, oferecendo à equipe médica
informações sobre a evolução do quadro clínico. Os resultados podem ser obtidos
em 24 ou 48 horas.
Deusilene
Dallacqua observa que a ausência de um exame similar nos laboratórios de
referência do país dificulta o conhecimento da real prevalência, a melhor
compreensão do comportamento do vírus e o direcionamento médico mais adequado.
"A
partir do resultado, você consegue auxiliar na conduta clínica desse paciente.
Avaliar se vai ser necessário um tratamento ou se vai ser necessário um
monitoramento. Pode ser marcada uma consulta em seis meses para ver como está a
evolução da doença."
Como as
demais hepatites virais, a hepatite D é uma infecção que afeta o fígado. A
transmissão se dá pelo contato com sangue e outros fluidos corporais de um
paciente contaminado. Isso pode ocorrer, por exemplo, por meio do uso dos
mesmos materiais de higiene pessoal, da transfusão de sangue, de
compartilhamento de seringas e de relações sexuais sem preservativo.
De acordo com
o Ministério da Saúde, a doença se desenvolve quando o organismo da pessoa
infectada carrega também o vírus da hepatite B. Isso porque vírus da hepatite D
necessita de um antígeno existente no vírus da hepatite B para se replicar.
Sobre a hepatite D
A doença é
endêmica na Amazônia e pode gerar uma infecção no fígado mais grave. De acordo
com dados do Ministério da Saúde, foram diagnosticados 4.259 casos de hepatite
D no Brasil entre 2000 e 2021, dos quais 73,7% foram na Região Norte. Mais da
metade dos indivíduos infectados no país possuía idade entre 20 a 39 anos.
Deusilene
Dallacqua, no entanto, afirma que existe uma alta subnotificação da doença. Ela
lembra que mesmo o exame voltado para a detecção de anticorpos só está
disponível em estados endêmicos e, inclusive nesses locais, a população
diagnosticada representa somente parcela dos casos.
Ela estima
que apenas no Acre e em Rondônia há aproximadamente 2 mil pessoas com hepatite
D em sua forma crônica, quando a infecção dura mais de seis meses.
"O
portador crônico pode ser um portador para o resto da vida. Mas também podem
ter evoluções. Pode evoluir para uma fibrose ou uma cirrose. E uma pequena parcela
pode evoluir para um hepatocarcinoma celular, um câncer hepático", explica
Deusilene.
De acordo com
a pesquisadora, a doença em sua forma crônica costuma ser silenciosa. A
infecção pode se manifestar também em sua forma aguda. Nesse caso, são comuns
sintomas variados como pele amarelada, vômito, enjoo e mal-estar.
Em alguns
desses casos, pode ocorrer a evolução para a chamada hepatite fulminante. Não
existem vacinas específicas para o vírus da hepatite D, mas a imunização contra
a hepatite B atua na prevenção da doença.
A parceria da
Fiocruz Rondônia com a Fundhacre, o Centro de Infectologia Charles Mérieux e a
UFAC que resultou no desenvolvimento desse método molecular teve início no ano
passado e deverá avançar para um acordo de cooperação.
As instituições
planejam expandir seus estudos para incluir ações de avaliação e caracterização
de outras enfermidades de importância médica na Amazônia.
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